Diário

    Durante muitos anos da minha vida eu tive diários. Eram pequenos cadernos que eu preenchia com todas as informações dos meus dias nada surpreendentes, pensando que em algum momento minha vida mudaria e eu ia querer lembrar de tudo que aconteceu até que eu chegasse nesse ponto.  

    Porém, frente à falta de uma história digna dos livros que eu amava na época, ou seja, sem uma avó que fosse rainha de um pequeno país europeu, sem um vampiro e um lobisomem que se apaixonassem por mim e, com o terrível medo que minha mãe lesse os meus pensamentos mais íntimos, aos 13 ou 14 anos eu queimei meus diários. Depois disso, tentei mil vezes tentar voltar a escrever, já que assim poderia colocar para fora meu monólogo interno, que nunca me deixou em paz, porém, eu falei, apesar de todos os blocos bonitinhos, canetas especiais e material constante para desabafar, eu fiquei 10 anos sem conseguir me colocar para fora. 

    Talvez o mais perto que eu tenha chegado de exprimir as partes mais inquietas da minha cabeça foi por meio do meu Twitter e, talvez, algumas postagens de brincadeira no Instagram, no entanto, todas essas redes contém pessoas que me conhecem e, como posso revelar coisas que nem eu gosto de dizer em voz alta para minhas colegas de faculdade ou minha prima mais nova?

    Mas um dia, no meio do trabalho, eu abri um documento em branco e, ao invés de produzir mais um texto jurídico do qual não me orgulho, eu comecei a jorrar tudo que foi passando pela minha cabeça. Infelizmente, duas hora depois desse lampejo de escrita, meu computador ficou tão esgotado quanto eu e decidiu ir-se de vez. Assim, ainda que eu quisesse, eu nunca vou conseguir recuperar meu momento de volta a escrita.   

    Porém, tendo em vista que esse breve momento me calou por dentro, eu fiquei pensando se deveria, mais uma vez, comprar um diário físico e tentar encher aquelas páginas com minha caligrafia, mas a realidade é que eu não tenho muita paciência, ou memória, ou uma letra decente, logo, não tem porque me prender à antiga ideia de um diário de papel, ainda que eles sejam muito mais teatrais. 

    Então, aqui estamos, um blog, a ferramenta que moldou a produção cultural da última década, mas que ninguém se lembra mais, por isso, totalmente perfeito para minha empreitada. Aqui, eu posso escrever tudo, sempre que eu quiser e ninguém vai ler. Não é ideal?Agora, veremos se não vou, mais uma vez, desistir de registrar quem eu sou.

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16/12/2021